Certa feita, ousei pensar que pudesse haver alguém mais vagabundo que Fábio. Porém, mudei de idéia quando ele me perguntou o nome de Cristiano, nosso professor havia já 4 anos seguidos. Eu tentava esquecer seus nomes, mas era realmente difícil superá-lo. Ele conseguia não decorar ou fazer um nome de professor ser deletado com muita eficiência. Era engraçado, mas nossos professores eram praticamente os mesmos sempre; a mesma gorda que me ensinou a ler lecionava-me biologia no terceiro...
Fábio é o verdadeiro pioneiro na arte de ser vagabundo. Ao longo de 2007, as mais diversas correntes e tendências do Colégio Bom Conselho discorriam teses sobre Como Não Fazer Nada, tal como a questão crucial: existe, de fato, o nada absoluto? Fábio, entretanto, já passara a difundir suas idéias de “como atingir a vagabundagem máxima” muito antes, quando elaborara a Teoria Geral da Vagabundagem em seus jovens 13 anos.
Em seus mandamentos, qualquer relógio ou marcador de tempo desqualificaria o patamar de vagabundo. O verdadeiro vagabundo não sabe que horas são, pois desconhece normas, horários e relógios. Um vagabundo que preze seu rótulo minimamente também deve saber em que mês estamos numa margem mínima de erro em 2 para cima ou para baixo; ou seja, caso estivermos em Junho, o verdadeiro vagabundo sabe, no máximo, que estamos entre Abril e Agosto. Naturalmente, se uma guria passar por ti, e essa passagem for seguida de uma não-olhada-virada-de-cabeça pro cú dela, fica descaracterizada a condição de vagabundo, e isso é importante, pois uma perversa olhada para trás-cú-da-mulher-que-passou, quando efetuada no anglo de inclinação perfeito e seguida de um rugido que expresse desejo e imoralidade, pode distinguir um verdadeiro de um pseudo-vagabundo. Por último, é quase desnecessário citar que, caso você domine quaisquer escritas em emendado ou que diferem da letra de pausinho (maiúscula), é um legítimo cú de ferro perante Fábio..
Tais condições, porém, eram tão básicas e medíocres para ele, que estavam fora de questão, pois já fazia uso delas desde os 8 anos de idade. Ele ia além, ele era capaz de passar um período extremamente longo de tempo sem fazer absolutamente nada, apenas alternando um bocejo indescritivelmente devagar e preguiçoso com um coçar de saco desleixado, unicamente característico dos vagabundos anciões com muita experiência.
Sua inigualável displicência para com os estudos chamou minha atenção. Passei a analisar seus movimentos e modo de caminhar com cautela, e logo percebi em seus passos o “ rebolado do vadio desleixado”, o qual consistia em leves quebradas dos quadris dianteiros, que emanavam improdutividade e preguiça em níveis insanos.
Ao longo do ensino médio, fábio produziu 3 parágrafos e meio, e inacreditavelmente foi aprovado nos 3 anos em que esteve matriculado. Um velho professor dizia que os vagabundos, tais como Fábio, não são de ninguém, pertencem ao mundo. Eu ressaltaria que, sobretudo, o mundo pertence a eles. A caras que, lentamente, arrastam-se pelas alegrias de seu planeta.
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