quinta-feira, março 11, 2010

Delírios sobre Feijão

Os jogos puritanos cebecenses eram, sem dúvidas, o campeonato mais aguardado do ano. Promovendo paz e alertando sobre os malefícios da droga, era credor de altíssimas expectativas. Reunia dezenas de alunos dos mais diversos pavilhões, facções criminosas e organizações de tráfico do colégio. Todos unidos, independentemente da vitória, em prol da diversão e aprendizado..
Os que venciam, de fato, divertiam-se.. O Cannabis Futebol Clube, porém, estava somente sempre aprendendo. Eram o pior exemplo que possa ser possível para as crianças da escola. Jogavam em trapos rasgados com pichações de erva, de forma que da platéia dos pais dava para sentir o cheiro da cannabis. Cometiam muitas faltas. E a idéia de machucar outros companheiros de escola agradava muito a Feijão, volante do time, o mais grosso já visto nas quadras. Feijão não tinha remorso algum em quebrar uma perna alheia. Até mesmo a de uma criança de 13 anos, a qual para Feijão era igualmente um adversário. - “eu avisei ela”– disse uma vez Feijão, depois de ter arrancado o púbis de uma garotinha que lhe tentou tirar a bola.
A direção do colégio sempre teve a prudência de não misturar idades muito distintas nos campeonatos: podiam jogar juntos apenas alunos de 12 à 18 anos –Feijão, certa vez, tentara entrar em campo com chuteiras de travas ( os jogos eram de salão ), mas fora vetado a pedido do pai de um dos alunos da 6ª série que jogaria contra Feijão.
No entanto, esse ano não contaria com sua saudável presença.. Não, canelas não seriam mais quebradas. Pelo menos não pelas patas de Feijão, que fora banido dos jogos pela delegação médica de exames anti doppin. A vasta equipe médica da escola ( Irmã Norma, de 92 anos, e mais 2 ajudantes igualmente jovens) constatou altos níveis de anabol e crack no mijo de Feijão, que fizera o exame a pedido de uma organização de pais contrários a sua participação nos jogos. “As fezes estavam alteradas, enormes e assemelhavam-se às de uma ovelha com febre. Já tratei sim casos escrotos em minha vida, mas nunca vi algo tal como o que saiu desse menino”, ponderou Norma, resoluta, a chefe da equipe.
Mas então, o que é que muda? Que vantagens para o mundo surgem com a ausência de Feijão nos jogos? Tudo continua. O tédio segue. Eu diria até que, quando presto atenção na vizinha, ela continua linda, e tenho vontade de acordar com ela. Acordar do sonho ruim, da vida errada. Jovens continuam, com ou sem Feijão, a amar e viver pequenas paixões. Um brinde a essas paixões, que traçam mais azul o céu, mais vermelha a vida, e que fazem pessoas inspiradas escreverem metáforas ridículas sobre cores e a beleza do amor. Pois o gordo, aquele, ainda acha seu pau e ego pequenos. E a vida, eterno clichê dos finais de textos, permanece sendo a mais linda de todas.

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