domingo, abril 25, 2010

Ruínas e a Esperança.

My lips like sugar. Doce açúcar de nossas lindas. Fêmeas , que sem se dar conta dão graça às vidas. Dão graça à vida do Elisando da padaria, do Josué da imobiliária, do Carlos, o mendigo. E, também, dão graça à minha vida. Então lhe pergunto: por que você, caro amigo, vive durante os cinco dias úteis da semana? A resposta é simples. Porque sabe que há de vir o final de semana. Toda semana precede seu próprio ápice, o cume, a recompensa, ou ao menos a esperança de achar uma menina interessante: ah, o fim de semana!
Você pode ser um verme, o qual passa todas as sextas e sábados se chapando a noite inteira e não se relaciona com alguém do sexo oposto há meses. Vai na cidade baixa e gasta toda sua grana em drogas, e todo o dinheiro que não gasta com álcool é consumido em laricas podres de ambientes inóspitos e gordurosos, a exemplo de Speed, Dog do Élio ou Dog do Gordo. Digo, você está frequentemente completamente chapado e lesado nos finais de noite, sem conseguir trocar simples palavras com uma mulher, e dá uma nota de 5 reais para pagar a cerveja de 2,20, a moça gorda que trabalha no balcão lhe pede 20 centavos para facilitar o troco, mas você não compreende porque está chapado e não entende nada, pensa que ela está tentando lhe roubar, lhe ludibriar, passar para trás. Todos estão te observando, e é difícil ocultar de sua expressão facial os distúrbios e inseguranças consequentes da pressão social. Você só quer ingerir toda a gordura daquele xis fedido e molhado logo, para então dormir e acordar arrependido.
Mas os contextos também mudaram. Antigamente, você via esperança nos finais de semana. A beleza dele era que todos eram como o primeiro. Sua esperança se renovava: uma gatinha que lhe achasse lindo, uma bela prenda a qual desse fartura à sua tiriça. O olhar de uma menina seria como um renovador de forças, a vazação de uma gostosa lhe concederia energia para continuar. Como um checkpoint do Mario Kart, a vazada lhe dava saldo para permanecer saindo por mais duas semanas e meia.
Hoje, você já sabe da ruína que lhe aguarda nas podres ruas da CB. Mas a inércia lhe conduz ao pecado. O colégio desperta a mais profunda nostalgia e agora o capitalismo reina. Pensamentos destrutivos começam a surgir; mulheres só querem dinheiro, o ser humano é egoísta por natureza. Mas mamusca te cobre com lençóis e dá boa noite. A cerveja nos aproxima e a vida é podre. Mas é boa.
“My lips like sugar”. No que te faz pensar essa frase? Talvez você seja um ignorante em inglês e não pense em absolutamente nada. Pois lhe traduzo: meus lábios como açúcar. Passei dez dias na cidade maravilhosa com alguns amigos ano passado. Por isso me lembro do Rio de Janeiro. A música tocava sempre nas festas, e as cariocas rebolavam. Não só rebolavam, mas também bebiam goles em câmera lenta, conversavam entre si em bares e cigarros sacados e acendidos de forma muito sensual. E eu filmava. O sotaque, o jeito, a magia. Tudo me encantava nas cariocas. A vida que sob certos aspectos pode ser tão fascinante.
A cidade é do caralho. Fomos ver um jogo do Grêmio em um bar onde passavam vários jogos simultaneamente, isso no final de tarde. Conhecemos duas meninas viciadas em futebol que falavam do Botafogo e Fluminense. Eram a sujeira, mas fodase, convecemos elas a ir para onde estava hospedado o Hique e outros gaúchos maconheiros. O bar era perto da avenida de Copacabana, pegamos a avenida e andamos uns 20 minutos a pé até chegar no matadouro. Entramos no ap e Biel estava pelado e completamente chapado. Essa cena fez com que elas quase desistissem e voltassem, mas insistimos muito e elas, depois de algum hêsito, decidiram ficar e interagir com esses estranhos meninos. Fumamos um baseado da lenha Porto Alegrense. Elas não fumavam muito, davam curtos pegas e passavam logo para o próximo, quase que só para não fazer desfeita.... Estou cansado, outro dia conto o resto dessa interessante situação.

quinta-feira, março 11, 2010

Delírios sobre Feijão

Os jogos puritanos cebecenses eram, sem dúvidas, o campeonato mais aguardado do ano. Promovendo paz e alertando sobre os malefícios da droga, era credor de altíssimas expectativas. Reunia dezenas de alunos dos mais diversos pavilhões, facções criminosas e organizações de tráfico do colégio. Todos unidos, independentemente da vitória, em prol da diversão e aprendizado..
Os que venciam, de fato, divertiam-se.. O Cannabis Futebol Clube, porém, estava somente sempre aprendendo. Eram o pior exemplo que possa ser possível para as crianças da escola. Jogavam em trapos rasgados com pichações de erva, de forma que da platéia dos pais dava para sentir o cheiro da cannabis. Cometiam muitas faltas. E a idéia de machucar outros companheiros de escola agradava muito a Feijão, volante do time, o mais grosso já visto nas quadras. Feijão não tinha remorso algum em quebrar uma perna alheia. Até mesmo a de uma criança de 13 anos, a qual para Feijão era igualmente um adversário. - “eu avisei ela”– disse uma vez Feijão, depois de ter arrancado o púbis de uma garotinha que lhe tentou tirar a bola.
A direção do colégio sempre teve a prudência de não misturar idades muito distintas nos campeonatos: podiam jogar juntos apenas alunos de 12 à 18 anos –Feijão, certa vez, tentara entrar em campo com chuteiras de travas ( os jogos eram de salão ), mas fora vetado a pedido do pai de um dos alunos da 6ª série que jogaria contra Feijão.
No entanto, esse ano não contaria com sua saudável presença.. Não, canelas não seriam mais quebradas. Pelo menos não pelas patas de Feijão, que fora banido dos jogos pela delegação médica de exames anti doppin. A vasta equipe médica da escola ( Irmã Norma, de 92 anos, e mais 2 ajudantes igualmente jovens) constatou altos níveis de anabol e crack no mijo de Feijão, que fizera o exame a pedido de uma organização de pais contrários a sua participação nos jogos. “As fezes estavam alteradas, enormes e assemelhavam-se às de uma ovelha com febre. Já tratei sim casos escrotos em minha vida, mas nunca vi algo tal como o que saiu desse menino”, ponderou Norma, resoluta, a chefe da equipe.
Mas então, o que é que muda? Que vantagens para o mundo surgem com a ausência de Feijão nos jogos? Tudo continua. O tédio segue. Eu diria até que, quando presto atenção na vizinha, ela continua linda, e tenho vontade de acordar com ela. Acordar do sonho ruim, da vida errada. Jovens continuam, com ou sem Feijão, a amar e viver pequenas paixões. Um brinde a essas paixões, que traçam mais azul o céu, mais vermelha a vida, e que fazem pessoas inspiradas escreverem metáforas ridículas sobre cores e a beleza do amor. Pois o gordo, aquele, ainda acha seu pau e ego pequenos. E a vida, eterno clichê dos finais de textos, permanece sendo a mais linda de todas.

O Vagabundo.

Certa feita, ousei pensar que pudesse haver alguém mais vagabundo que Fábio. Porém, mudei de idéia quando ele me perguntou o nome de Cristiano, nosso professor havia já 4 anos seguidos. Eu tentava esquecer seus nomes, mas era realmente difícil superá-lo. Ele conseguia não decorar ou fazer um nome de professor ser deletado com muita eficiência. Era engraçado, mas nossos professores eram praticamente os mesmos sempre; a mesma gorda que me ensinou a ler lecionava-me biologia no terceiro...
Fábio é o verdadeiro pioneiro na arte de ser vagabundo. Ao longo de 2007, as mais diversas correntes e tendências do Colégio Bom Conselho discorriam teses sobre Como Não Fazer Nada, tal como a questão crucial: existe, de fato, o nada absoluto? Fábio, entretanto, já passara a difundir suas idéias de “como atingir a vagabundagem máxima” muito antes, quando elaborara a Teoria Geral da Vagabundagem em seus jovens 13 anos.
Em seus mandamentos, qualquer relógio ou marcador de tempo desqualificaria o patamar de vagabundo. O verdadeiro vagabundo não sabe que horas são, pois desconhece normas, horários e relógios. Um vagabundo que preze seu rótulo minimamente também deve saber em que mês estamos numa margem mínima de erro em 2 para cima ou para baixo; ou seja, caso estivermos em Junho, o verdadeiro vagabundo sabe, no máximo, que estamos entre Abril e Agosto. Naturalmente, se uma guria passar por ti, e essa passagem for seguida de uma não-olhada-virada-de-cabeça pro cú dela, fica descaracterizada a condição de vagabundo, e isso é importante, pois uma perversa olhada para trás-cú-da-mulher-que-passou, quando efetuada no anglo de inclinação perfeito e seguida de um rugido que expresse desejo e imoralidade, pode distinguir um verdadeiro de um pseudo-vagabundo. Por último, é quase desnecessário citar que, caso você domine quaisquer escritas em emendado ou que diferem da letra de pausinho (maiúscula), é um legítimo cú de ferro perante Fábio..
Tais condições, porém, eram tão básicas e medíocres para ele, que estavam fora de questão, pois já fazia uso delas desde os 8 anos de idade. Ele ia além, ele era capaz de passar um período extremamente longo de tempo sem fazer absolutamente nada, apenas alternando um bocejo indescritivelmente devagar e preguiçoso com um coçar de saco desleixado, unicamente característico dos vagabundos anciões com muita experiência.
Sua inigualável displicência para com os estudos chamou minha atenção. Passei a analisar seus movimentos e modo de caminhar com cautela, e logo percebi em seus passos o “ rebolado do vadio desleixado”, o qual consistia em leves quebradas dos quadris dianteiros, que emanavam improdutividade e preguiça em níveis insanos.
Ao longo do ensino médio, fábio produziu 3 parágrafos e meio, e inacreditavelmente foi aprovado nos 3 anos em que esteve matriculado. Um velho professor dizia que os vagabundos, tais como Fábio, não são de ninguém, pertencem ao mundo. Eu ressaltaria que, sobretudo, o mundo pertence a eles. A caras que, lentamente, arrastam-se pelas alegrias de seu planeta.

O Primo Normal

Chamava-se Júnior, mas era sutilmente apelidado de Estuprador. Estuprador, sim, assim chamava-se o único primo de minha esposa ainda lúcido, e que, portanto, cuidaria das crianças. Elas estariam também sob os cuidados de Billy da Pedra, seu companheiro de quarto, que estava de dieta e pesava 40 kilos. Estuprador mostrou-se um rapaz calmo e equilibrado logo em nosso primeiro encontro, quando estava escondido de baixo da cama, completamente nu, com um espeto na mão a olhar fixamente para a ratoeira que preparara. Achei estranho, mas pude ficar tranqüilo e ter total confiança de que ele não era louco, quando me explicou que estava, afinal, apenas tentando matar um suposto rato voador com o rosto de lúcifer, o qual não parava de gritar seu nome e convidar-lo para tomar chá no inferno. Que alívio, pelo menos louco ele não era. Para me deixar ainda mais a vontade, vestiu seus andrajos e me fez a proposta quase irresistível de tomar um alucinógeno chamado Portal do Inferno, mas, não sei exatamente por que, algo naquela droga me dizia que não seria uma boa idéia.

O Pato e a Quenga

Durante pastosos anos de minha história, vivi, ou pelo menos não estive morto, em Canoas, cidade distante, há 600 centímetros de Porto Alegre. Lá, muitos fatos interessantes ocorreram em minha vida. Por exemplo, ao longo de 7 anos me chamaram por Pato. Era meu apelido. Outra vez, também, caí no chão e quebrei um braço. Depois, acreditem ou não, fui ao médico, mas estava tudo sob controle.
Hoje, em Porto Alegre, tornei-me um pato de verdade. E escrevo posts. Postes insanos de luz. Mas não sou Pato, o jogador. Quem me dera ser possuidor de tamanha habilidade com os pés; viveria há muitos pés daqui. E igual, me concentraria tanto em fazer gols que nem lembraria que um pé é igual a 30,5 centímetros. Nossa, o sujeito que determinou que nossa espécie tem um pé de 30,5 centímetros com certeza não era pequeno. “Nossa”, assim que a galera apelidava aquela puta. Isso em Canoas, em meus pastosos anos. Puta merda, ela era bem safada, “os fins justificam os meios”, ela dizia no meio da galera. Ah, Zeus, quais seriam os fins capazes de isentar meios tão promíscuos?
No entanto, eu gostava dessa quenga (prostituta (funcionária noturna) ). É uma pena que tal quenga, da conturbada e agitada metrópole que é Canoas, não tenha ficado sabendo que havia alguém que lhe propiciaria uma vida melhor. E eu, então confuso rapaz, que tanto a desejou e que a perdoaria, sim, por suas longas noites pecaminosas e molhadas com idosos fétidos e sem dentes, tão pouco fiz. Só por dinheiro, vadia! Como pude deixar de dizer: “Venha, minha quenga linda, aceitar meus Nescais matinais! Pois quem lhe amaria mais? Quemga rantiria a você vida tão bela? “
Arrasado, hoje lhe aconselho duas coisas: primeiro, nunca aconselhe a alguém uma frase-clichê e repetida. Segundo, e não menos importante: nunca se arrependa do que fez, e sim somente do que não fez. Pois encontro-me na merda. Atolado em um vaso de 5 litros - iguais àqueles do Zaffari, em que os viciados plantam maconha - Mas que merda.